segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Discurso de formatura do curso de História da Unifeob. (por Tiago Félix)

Resolvi postar aqui o discurso do meu amigo e companheiro Tiago Félix, primeiro por considerá-lo um grande discurso e segundo porque ele reflete também, tudo ou muita coisa do que penso a respeito da sociedade e da educação brasileira. Enfim, não pedi autorização para postar, porém sei que ele não se ofenderá, já que um discurso como esse tem que ser repassado e lido por muita gente.


Todo coração é uma célula Revolucionária

Inicio este discurso nas palavras do Professor Paulo Freire: “A alegria

não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da

busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da

boniteza e da alegria”

Quero através da minha fala e em nome dos professores que

aqui estão em sua primeira graduação, estabelecer idéias coerentes,

que fogem do padrão conceitual e de atitudes puritanistas dessa nossa

sociedade de direito burguês. É nossa função questionar a normalidade dos

acontecimentos para que assim possamos construir novos conhecimentos;

é no combate de idéias que transformamos a realidade, e desta forma

devemos lutar para que nossas vidas e nossos ideais não cometam o deslize

de se fixar no senso comum.

Realmente não foi uma tarefa fácil, todos aqueles trabalhos, provas,

seminários, divergências ideológicas e partidárias... Mas aqui estamos nós,

formandos do curso de história, professores que vão sair para enfrentar um

momento muito difícil de nossa estrutura educacional. Pode até ser que

chegue o dia em que faltará força para nós, mas esse dia não é hoje, então

meus caros amigos e amigas, companheiros de luta. Vamos sair e enfrentar.

Conhecemos pessoas diferentes, fizemos grandes amizades.

Não façamos da distância um obstáculo maior do que tudo aquilo que

construímos, nossos desacordos no decorrer do curso nos fizeram enxergar

o quão importante é: saber nos posicionar; lutar pelas nossas ideias;

expressar nossa opinião.

Ao educador transformador compete o desafio de refazer a educação,

reinventá-la, criar as condições objetivas para que seja possível o

surgimento de um novo tipo de humanidade. A escola tem que deixar de

ser uma fábrica de empregados para se tornar uma instituição formadora de

pessoas preparadas para a vida.

Pessoas preocupadas em superar o individualismo criado pela

exploração capitalista, preocupadas com um projeto social e político

que construa uma sociedade justa, igualitária. O conceito burguês de

adestramento social deve ser extinto.

Vivemos hoje numa sociedade marcada pela falsa democracia, pela

desigualdade social, pelas taxas alarmantes de criminalidade, pelo alto

índice de óbitos não naturais, pelos conflitos armados, pela luta de classe,

pela exclusão racial, social, digital, cultural, educacional. A cada dia mais

crianças perdem sua infância, são aniquiladas por pais e/ou responsáveis,

ou enclausuradas no mundo das drogas, as pessoas sem importância

política definham nas filas do SUS, em filas de espera por aposentadorias,

em empregos informais, em depósitos prisionais de seres humanos. Em

outras palavras, estamos em GUERRA NÃO DECLARADA. Obviamente,

a educação não pode solucionar todos os problemas sociais, mas, ela, com

certeza, é vetor de possibilidades.

É urgente que se busque uma Educação transformadora. É urgente

que se faça cumprir o objetivo mais pronunciado nas áreas que competem

às práticas pedagógicas que é: construir seres críticos e reflexivos que

saibam se posicionar perante a sociedade. “É obsceno e uma covardia sem

tamanho, jogar nos ombros de crianças desassistidas o ônus do fracasso dos

gestores do país”

Não vamos cometer o erro e, sobretudo a ingenuidade de pensar

que estamos formados de fato, sempre haverá conhecimentos e práticas a

serem desenvolvidas, como também sempre poderemos ensinar e aprender

alguma coisa, até mesmo e muito mais com as coisas mais simples; o

papel que hoje que pegaremos é apenas uma ferramenta dentre as muitas

outras que precisamos empunhar se quisermos realmente combater a

mediocridade do sistema vigente.

A alegria de entrar numa sala de aula está intimamente ligada na

vontade pela transformação social... Não existe posicionamento mais

nobre para um profissional docente do que a sua luta pela sociedade...

Sua vontade pelo enriquecimento intelectual daqueles que estão ouvindo,

podendo explorar ao máximo suas capacidades, e deste modo lhes mostrar

um novo conceito de mundo, uma nova visão de liberdade...

É com profunda admiração e respeito que deixamos aqui nosso muito

obrigado aos professores e mestres que nos ajudaram desde a infância

a estarmos aqui no dia de hoje... Aos educadores da UNIFEOB nossos

respeitos e agradecimentos.

Encerro por aqui mandando um abraço Aos companheiros e

companheiras de luta que fizeram dessa caminhada ardorosa, momentos

de alegria e superação da capacidade intelectual na produção de

conhecimento; companheiros que compartilharam durante anos à vontade

pela liberdade desmedida de preconceitos e de falsa moralidade, pessoas

dispostas a fazer da vida um bem mais precioso do que a superficialidade

das coisas materiais. O meu muito obrigado pelos momentos onde a razão

foi apenas uma opção e a inspiração tomou o lugar do vazio da existência

humana.

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